terça-feira, 24 de novembro de 2009

A JANELA EXPLICADA AOS VINDOUROS

Eis a Janela do Capítulo, tal como a vêem quase todos os visitantes da Casa da Ordem de Cristo. A partir de um pequeno terraço, que alguns julgarão ter sido feito exclusivamente para apreciar a fachada poente do coro manuelino. Na verdade, trata-se apenas da cobertura da escada de ligação entre o 1º piso do claustro de Santa Bárbara e o piso térreo do claustro de D. João III. Tudo isto começou a ser edificado 25 anos após a conclusão da Janela.
Olhando com mais atenção, apercebemo-nos de que os sinais do tempo, os líquenes, os musgos, a patine, as diversas tonalidades, lhe dão outro relevo, outras perspectivas, outra visão dos volumes que a constituem. Custa até imaginar o que virá a ser após uma eventual lavagem limpeza, que a deixaria toda com o mesma tonalidade monocromática, como já acontece na Torre de Belém e nos Jerónimos, alvo de desastradas operações de lavagem/limpeza, certamente muito lucrativas mas verdadeiros atentados à integridade dos monumentos que são património da humanidade.
Ao longo dos seus quase 5 séculos (completá-los-á o ano que vem) já sofreu vários atentados. Roubaram-lhe as duas imagens, que ignoramos a quem representariam, e até a entaiparam. Agora, porém, é muito mais grave. Se as nossas suspeitas são fundadas, pode bem estar em curso um processo bem intencionado, como todos, capaz no entanto de a vir a mutilar irremediavelmente. Estamos a falar da sua eventual lavagem/limpeza, que destapando os poros do calcário, até agora protegidos pelos tais musgos e/ou líquenes, a deixararia à mercê da infiltração de chuvas ácidas e consequente destruição lenta. Oxalá seja só uma suspeita nossa, sem qualquer fundamento. Oxalá !
Em todo o caso, como vale mais mais prevenir que remediar, faça o favor de imprimir a fotografia, depois de com dois cliques a ter ampliado, e segure-a ou ponha-a ao seu lado. Depois vá lendo o que seque e olhando para a fotografia, alternadamente. Assim poderá ficar em condições de descrever, de forma sumária, a janela aos seus amigos, aos seus filhos, ou aos seus netos. Enquanto os arautos do progresso ainda não lhe deitaram a mão. Depois poderá ser demasiado tarde, porque sem remédio.
Temos então, de cima para baixo, para a direita e para a esquerda, a cruz da Ordem de Cristo, logo abaixo o escudo nacional, de ambos os lados as salinas (os quadradinhos), com a água do mar que se vê muito bem no lado de cima, dois pináculos com alcachofras e fetos, um de cada lado, que servem de amarração para corais em forma de cinco invertido, aos quais estão ligados por correntes. Na parte superior de cada um dos ditos corais, a esfera armilar, emblema do rei D. Manuel, mestre da Ordem de Cristo antes de ter subido ao trono.
Logo abaixo do escudo nacional, dois corais ampliados, em forma de âncora. De ambos os lados mais fetos, pedaços de cortiça e cabos de amarração com grandes bóias de cortiça, que amarram a janela aos contrafortes da fachada, chamados botaréus.
Mais abaixo, do lado de fora dos pináculos em forma de plantas exóticas, dois troncos de coral. O da direita está amarrado com uma corrente, o da esquerda com uma guizeira. São os baldaquinos de duas imagens que entretanto desapareceram. Ignora-se quem ou o que representavam. Ainda nos pináculos, na direcção dos vazios onde estiveram as ditas imagens, um nó gigante da cada lado e logo abaixo alcachofras. Segue-se o motivo que fecha toda a estrutura ornamental. Uma árvore com as raízes à vista, suportada por uma figura humana, da qual se vê a cabeça e os braços. De ambos os lados, uma corda monumental, a ligar a parte inferior aos botaréus, tal como já descrito mais acima.
Assim é a obra-prima do manuelino, a Janela da Sala do Capítulo do Convento de Cristo de Tomar. O resto são opiniões. Perfeitamente legítimas, mas com as quais se poderá concordar ou não.
Continuaremos na mensagem seguinte. Mais logo, para evitar indigestões de manuelino, que é uma arte bastante complexa. Como os portugueses afinal...

8 comentários:

Anónimo disse...

Desculpe fugir ao tema.

A PROPÓSITO DOS 850 ANOS DA CIDADE DE TOMAR:
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Deu-se o caso de, há dias, ter lido num jornal estas palavras proferidas na abertura de um Forum para discutir "Estratégias Culturais para um Novo Mundo":

"Se quisermos que as pessoas falem umas com as outras, não é necessário estar nas grandes capitais. A crise que atravessamos é uma crise de falta de cultura. Esquecemos o que é um homem honesto. (...) Esta sociedade da instantaneidade suprimiu a importância da ética".

O Ministro da Cultura do país em questão esteve presente durante os dois dias do Forum e na sua intervenção instou os 300 participantes (1) para a urgência de devolver à cultura um lugar central na economia, a economia da cultura como polo de resistência à crise - "o formidável instrumento da cultura para cada um".

Um outro interveniente deu este exemplo:

"Em 1901 a maior cidade metalúrgica do Reino Unido contava 900.000 habitantes; em 1981, 519.000 e 20% de desempregados. (...) Em 2007, Liverpool investiu 600 Euros por habitante na cultura e a sua taxa de desemprego caíu 5% - a cultura estimulando a economia".

Palavras simples, parecem do senhor de la palisse, e, estou certo, gostaríamos de as ouvir a um Ministro da Cultura de Portugal (nem que fosse só para inglês ver) ou ver debatidas nos "medea" e na soc. civil por todo o país, envolvendo todos os agentes a nível local e nacional.

850 anos?!.. Julgava que em casos de tanta longevidade só se comemoravam os centenários. Mas logo pensei que, na crise actual, pode ser um acontecimento cultural da maior relevância para a cidade e para o país.

Fundação da Cidade...Fundação de Portugal... Cidade Templária... Ordem dos Templários... Epopeia dos Descobrimentos.... Período Histórico Europeu da Renascença e do Ideal Humanista (e os contributos decisivos que demos aos outros de mão beijada e não soubemos aproveitar) - um nunca mais acabar de temas interligados que poderiam suscitar uma profundíssima reflexão neste momento de todas as crises.

Não são os geniais economistas, só por si, que nos arrancarão da crise e do atraso crónico.

Mas que oportunidade!!! Nenhuma outra comemoração, neste preciso momento e durante os próximos anos poderá assumir a importância cultural e política em Portugal que está ao alcance desse importante acontecimento que se espera tenha lugar em 2010 (e devia ser preparado com, pelo menos, dois anos de antecedência). Tomar pode atrair a si a atenção de todo o país.
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(1) Entre os 300 participantes, estiveram decisores públicos e privados, criadores, produtores, realizadores, dirigentes de empresa, mecenas, , economistas, universitários, intelectuais de todas as áreas. etc., etc.

Anónimo disse...

Pedi desculpa por fugir ao tema, mas seria imperdoável não expressar o quanto gostei de ler este seu post, uma magnífica lição sobre a Janela do Capítulo.

Sebastião Barros disse...

E convirá não esquecer que a célebre janela, emblema do manuelino, o único estilo arquitectónico realmente português que tivemos, COMPLETA 500 ANOS EM 2010.

Anónimo disse...

PROPOSTA

Proponho para responsável pela Comissão Comemorativa dos 500 anos da Janela do Capítulo o Prof. Carlos Trincão.

O Proponente

Miguel de Miranda Relvas

Anónimo disse...

Não conheço o Professor Carlos Trinção e até pode ser boa proposta.

Mas de uma coisa tenho a certeza:

Se há tomarense mais talhado para essa função, ou outra dentro da comissão, é o Manuel Antunes Faria.

A sua experiência e vocação para este tipo de realizações é incontestável.

Tenho ainda para mim, que o responsável deste Blogue tem, por direito, lugar nessa comissão. Também gostaria de ver integrado nessa comissão uma grande personalidade tomarense: o Sr. Fernando Patrocínio.

Maria disse...

Quando a Janela cair, puderão sempre, espreitar atrás de uma parede, a sua réplica.
Quanto à limpeza, irá ficar com um ar limpinho e lavado, que lhe dará o aspecto de loiça sanitária, como já ouvi dizer do Convento de Mafra.
Deixem a Janela como está, por favor! Há tanto lixo para limpar em Tomar. As sarjetas, por exemplo.

Anónimo disse...

Ora aí está. Tudo malta fartinha de trabalhar!

Anónimo disse...

concordo em absoluto, tudo pessoal de trabalhar no duro!
então essa joinha do Manecas do Turismo, actual vendedor de vinhos por graça da região, será imperdoável não constar!

quanto ao resto, bora,... como diz o outro: temos e somos o que contruirmos!



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